De quando algo mudou

Gabriela Vargas

Sempre quando se fala em primeira vez é normal lembrarmos do nosso primeiro beijo, do primeiro namorado, da primeira transa; porém, existem primeiras vezes tão sutis que, muitas vezes, quase passam despercebidas. Interessante também é quando temos um período de contínuas primeiras vezes na nossa vida. Tantas e tão diferentes que chegam a estontear.

Lembro que ano passado, enquanto passava as férias de julho no Rio de Janeiro, na casa da minha tia, soube que minha avó estava na UTI em Porto Alegre. No começo, não me preocupei muito, pois fazia poucos dias que eu havia viajado e ela ainda estava bem, no entanto, aos poucos fui vendo que a situação era mais complicada do que eu imaginava. Um tempo se passou e ela faleceu. Morreu e eu não me despedi, pois estava no Rio. Então, a partir daquele dia, tantas primeiras vezes aconteceram na minha vida que fico impressionada somente por relembrá-las e senti-las tão pulsantes dentro de mim.

Aquela foi a primeira vez em que eu não queria voltar para casa. Sentia uma mistura de medo e impotência. Não queria chegar ao aeroporto e receber abraços entristecidos e tão fracos quanto eu. Desejava com todas as minhas forças continuar ali, de férias, fingindo que nada havia acontecido, brincando nas dunas com o meu primo e me bronzeando na praia. Aquela foi a primeira vez que eu olhei para a minha tia como se pedisse para ela pegar a minha mão, me tirar daquele aeroporto e me levar pra sua casa. Isso não aconteceu. Então, pela primeira vez, fui chorando do Rio de Janeiro à Porto Alegre, querendo que o avião nunca chegasse, que mudasse de rumo ou caísse de uma vez. Nada aconteceu... Eu não podia mudar os fatos.

Raiva! Cheguei, recebi os tais abraços e senti como se tivessem tirado parte de mim. Pela primeira vez percebi de imediato que havia ocorrido uma mudança realmente grande na minha vida, daquelas como cortar o cabelo bem curto, mudar de cidade ou perder alguém amado.

E eu perdi...

Com certeza, essas não foram as primeiras vezes mais felizes e especiais da minha vida, mas como toda primeira vez, foram inexperientes e, consequentemente, geradoras de, no mínimo, um pequeno amadurecimento.

E pensando bem, quem nunca teve uma primeira vez semelhante? E quantas ainda não estarão por vir?

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