Nós duas

Marli de Oliveira

Cheguei em casa à noitinha, cansada depois de um dia atribuladíssimo, sentei no sofá, tirei os sapatos enquanto revirava as almofadas em busca do controle remoto. Na mesa ao lado, um copo com gelo me acenava. Ao final do wisquinho e ainda ao som de Prem Joshua, juntei minhas tralhas e subi, ansiosa por vê-la, ali, no quarto, esperando.

Entramos juntas no banho. Liguei o aquecedor e esperei a água esquentar enquanto a acariciava – ela insistindo em me abraçar. Incrível a sintonia entre nós duas. Uma delícia estar num lugar onde não nos conhecem, porque ali ninguém nos vê, ninguém nos julga, nem condena, nem absolve. Ali somos só nós. Dançamos - ela e eu -, num antigo ritual, muito conhecido por nós duas, e sempre desejado. Ora frenética, ora lenta e abusiva, ela me abraça macio, me lambe o rosto, o corpo, as pernas. E eu, permissivamente, mostro-lhe os caminhos a percorrer, com calma e satisfação.

Agora, jogadas na cama, eu na cabeceira e a ela nos pés, dormimos o sono dos justos. Pela manhã, acordo leve e tranqüila, escolho minha roupa para usar naquele dia, tomo um café, volto ao quarto e vejo minha velha e querida toalha-de-banho, molhada e jogada aos pés de minha cama. Coloco-a na máquina junto com as demais roupas e saio para o trabalho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário