Abandono

Léo Ferlauto

Duas tigelas vazias. Ao redor, um silêncio parado, desalentador, por vezes atravessado por longínquos sons de rua. As imagens movendo-se com lentidão, e ele perambulando entre elas, ansioso, desolado. Vez ou outra, um novo olhar para aquela porta, ansiando pela volta dos afagos, que resultavam num frisson ritmado, percutindo em pés de mesa e cadeiras, ou onde fosse. Ainda uma vez, nada. Nem um movimento ou cheiro conhecido. Ali, parado em frente à porta, uma tristeza quase humana resvala de seus olhos. Volta a atravessar aqueles espaços vazios e vai para seu canto, para seu cobertor com dobras e cheiros familiares. Antes, sacia a sede num filete de água que escorrega pelo chão e aninha-se. Um ganido quase como um choro de criança rompe o silêncio da casa há tanto tempo vazia.

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