Solidão

Lilia Feres

Como num dia qualquer, ele acordou, saiu da cama e fez xixi. Foi em direção aos quartos em busca da rotineira algazarra matinal. Fuçou aqui, fuçou ali e nada. Rumou para a sala a fim de encontrar companhia, já que ninguém o havia procurado ainda. Para aumentar sua frustração, o sofá estava vazio. Pulou na chaise. Ela estava fria e o cheiro já não era mais tão forte. Voltou-se para o telefone e notou a pequena luz vermelha piscar ritmadamente. Alguém tentou entrar em contato. Seguiu para o pátio, onde sentiu um vento atípico para aquela época do ano envolver seu corpo feito um abraço. Era um abraço forte, mas frio, como se estivesse anunciando algo. Não parecia ser coisa boa. Ele olhou para o varal e viu uma porção de roupas estendidas, que pareciam ser as mesmas de outro dia, e de outro e de outro. Os brinquedos do menino estavam jogados na grama. Alguns haviam até perdido a cor. A água da piscina estava com uma aparência péssima e um gosto terrível, mas era o que tinha para beber. Foi até a janela que dá vista para o quintal. Viu que havia muitos jornais, camuflados por punhados de folhas secas e muita poeira, junto ao pé da porta. Sentiu uma vontade quase incontrolável de sair correndo, apanhá-los com cuidado e entregá-los ao seu companheiro. Exatamente como fazia todas as manhãs, exceto em dias de chuva, para não deixar marcas de lama no assoalho. Foi então que ele entendeu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário