Ninho Vazio

Tatiana Wittée

Depois de muito tempo longe da minha terra, voltei a percorrer histórias crivadas na memória. Ruelas, praças e bodegas, amigos e vizinhos tão próximos quanto as modestas cercas permitiam.

Parei na frente de minha casa, que não mais existia. No lugar, crescia um imponente edifício de doze andares. O amplo terreno, cúmplice de minhas fantasias, estava, agora, soterrado por toneladas de concreto.

Mas a casa da dona Marta, nossa vizinha de cerca, estava intacta.

Dona Marta, mãe amantíssima e prestimosa dona do lar, criou três filhos com muito desvelo. Tinha o hábito de ficar na varanda a esperá-los.

Já há bom tempo, quando perguntavam “como vai a família?”,ela respondia:

- Estão no colégio, já, já estão chegando, famintos. – Virando-se, ela concluía – preciso preparar o jantar.

- E o seu Aparício? Como está?

- Já chegou do trabalho, está ali na poltrona – apontava para o marido, enquanto avançava corredor adentro.

Os anos passavam e pouco mudava:

- Como vai a família, Dana Marta?

- Estão na faculdade! Estudando tanto, pobrezinhos – respondia entre orgulho e aflição.

- Um abraço pro seu Aparício.

- Espia cá, lá tá ele na poltrona, já te ouviu.

A casa pouco mudara, mas desta vez, não a vi na varanda e me aproximei da janela. Sentada na sala, lá estava Dona Marta, olhando o vazio. Quem chegou até a varanda foi o seu Aparício. Feliz em vê-lo, perguntei:

- Como vai o senhor? Lembra de mim? Como vai a família?

- Tudo criado, com muito orgulho. Tão trabalhando lá na Capital.

- E a dona Marta sempre tão alegre, não fica mais na varanda?

- Desde que os fio se foram ela fica ali, olhando pro nada, nem mais da comida dá conta. Até contratei uma moça para dar um jeito na casa.

Comovida, acrescentei:

- Sinto muito pela Dona Marta, mas que bom que ela tem o senhor para lhe fazer companhia. – Eu, preocupada, agora, com a saúde de seu Aparício, pergunto:

- E o senhor, seu Aparício, como está?

- Eu? Tô aposentado e fico ali, ali na poltrona.

Um comentário:

  1. triste realidade. cria-se os filhos, doa-se uma vida e os olhares desaparecem deixando apenas a solidão e a tristeza de um viver só. Enquanto proporcionou-se um futuro para os filhos c a generosidade e a grandeza de um pai e uma mãe vê-se q os mesmos nem estão ali para oque vier lhe acontecer...celso ferruda

    ResponderExcluir