E se eu morasse no Alasca?


Luana Ruas

Como disse certa vez o singular Renato Russo, “Todos os dias, antes de dormir, lembro e esqueço como foi o dia...”. E nestes últimos dias, só o que lembro é desse calor surreal que se instalou na cidade. Cada dia eu acordo mais triste; quando o relógio desperta, logo penso: Ah não! Vou ter mesmo que sair do meu Polo Norte particular e encarar o bafo.

Mas, sim, tenho. E essa é a realidade, meus queridos. Esse calor tá por demais da conta! Lembro de verões quentes, mas nunca como esse. Outro dia estava saindo do trabalho, num final de tarde. Me sentei num banquinho protegido por um sobra, na esquina da rua Olavo Barreto Viana com a Avenida Vinte e Quatro de Outubro. Ali fiquei esperando a minha carona. Sim, carona. Porque além de quente, não tem ônibus na minha cidade há uns 10 dias, mais ou menos. Enfim, não era sobre a tragédia do transporte que eu estava a me lamentar. Estava eu no dito banquinho, olhando para o trânsito. O sol parecia mais um laser gigante que tomava conta do céu; o asfalto parecia que ia descolar, como aquelas miragens dos desertos que vemos nos filmes. Naquele momento pensei: isso só pode ser o Capeta tentando subir à Terra e empurrando para cima o calor do fogo do Inferno. Mas não, não é. Isso é verão, minha gente, e dos bons (para os que estão em férias).

E como eu estava esperando uma amiga para pegar carona, ali fiquei eu, derretendo e pensando: será que é assim em todos os lugares? Será as pessoas sofrem assim com o clima? Eu mesma respondi minhas indagações, analisando os lugares que conheço. O Rio. Cidade Maravilhosa! Aham, sei. Quente sim, bem quente, mas os 40 graus deles ainda não superaram os nossos 30. O Nordeste? Só que não, como dizem por aí. Lá pros lados de Recife, Fortaleza, Rio Grande do Norte é mais quente que no Rio, mas ainda estamos na pior em relação a eles. Agora, Cuiabá. Meu Deus! Esse povo eu respeito. 50 graus? Lá nem piolho resiste na cabeça das pessoas. Acredito que esse calor que temos aqui ou em Cuiabá se torne mais insuportável pela ausência de uma enorme costa litorânea no meio da cidade. Tanto o Rio como as cidades nordestinas, no auge do verão, ainda contam com a colaboração da natureza, que manda uma brisa, mesmo que pouca, vinda do mar. Melhor que bafo do inferno, né?

Agora, e se eu morasse no Alasca? Tá, tudo bem, o Alasca é longe. Nesses lugares mais frios, como é? Nas últimas férias de inverno me fui a Buenos Aires. Julho, no auge da alta temporada. Minha mala estava recheada de toucas, mantas, luvas, botinhas peludas e tudo mais o que eu poderia (e gostaria de usar). Chego lá esperando o frio quase do Alasca e... 25 graus? Tá de brincadeira! Me enganaram. Não estava frio. E eu que achava que lá ia ter até uns floquinhos de neve pra cobrir meu gorrinho preto e me dar um super resfriado. Me dei mal. Acho que não existe mais inverno de verdade. Só no Alasca mesmo.

Olha, se eu morasse no Alasca, eu ia viver com frio, minhas “ites” respiratórias ativas, ia pesar uns 15 quilos a mais, de tanto tomar sopas e chocolate quente tentando me aquecer, meu cabelo ia ser seco, feio e espigado e, sim, eu ia reclamar do frio. Então, como nós, humanos, somos eternamente insatisfeitos com alguma coisa, eu fico por aqui mesmo, esperando o calor passar na minha quente Porto Alegre.

4 comentários:

  1. Mas tchê, tu consegue ser perfeita, até falando do nosso calor infernal!
    Caraca Meo!

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  2. Na real, tô lendo e te vejo falando cada palavra! Tô rindo aqui na praia, com respeito é claro, 🤣🤣🤣🤣🤣🤣

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  3. Que baita texto. Me fez pensar nos efeitos do aquecimento global e do jeito que está atualmente, se nem Buenos Aires aqui no Continente Sul-americano salvou o que posso esperar de lá do extremo norte (ao menos não será o bafo do inferno 🙌🏽)!

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