Antes da Visita

Thomas Domingues

- Bom dia – disse sonolento, sentando-se à mesa.
-Dormiu bem, filho? - Seu olhar continuava bastante tenso, mas, zelosa, encheu de suco o copo do garoto.
- Não, fiquei acordado a noite inteira. Só consegui dormir um pouco agora.
- Eu também não dormi.
- Deve ser péssimo dormir sozinha, depois de tantos anos – disse depois de um breve silêncio.
- É sim. – Seus olhos vermelhos anunciavam novas lágrimas.
- Vai ficar tudo bem. Tá acabando, mãe. - Terminou o suco e se levantou. Olhou para a janela, vendo o pé de goiaba que o pai plantou quando ele nasceu. - Não vai ter doce de goiaba esse ano.
- Não... – sussurrou a mãe, chorando baixo.
- Que horas é a visita? - Perguntou, depois de abraçá-la.
- Às onze, mas a UTI sempre atrasa para liberar. Não precisa sair correndo, desta vez.
- Nem pretendia, hoje levantamos mais cedo, vai dar tempo de chegar.
- Vou entrar e falar com o médico. Você quer entrar para vê-lo?
- Não sei se consigo.
- Eu não consigo não entrar.
- Eu não sou tão forte assim.
- A gente precisa ser. Por ele.
- Eu só quero que ele pare de sofrer, mãe.
- Eu... queria um milagre.
- …
- Vá tomar seu banho, daqui a pouco seu tio tá aqui. - Suspirou, preocupada – agora vou ter que passar em algum lugar e trazer almoço pra eles... não sei porque inventaram de avisar sua avó.
- É o filho dela, ela merece saber.
- Mas não dá pra gente ficar cuidando dela, não nessa situação.
- E você realmente acha que eles estão vindo sem saber disso? Capaz dela querer cuidar da gente. E eu deixaria.
- É, tem razão. Vai ser melhor se a gente tiver companhia.
- Família é pra isso, mãe. Quando o tio precisou, você e o pai estavam lá. E assim vamos tocando.
- Acho que minha irmã vem também. Quero ver caber tanta gente nesse apartamento.
- Calma, qualquer coisa eu durmo no sofá. Ou na minha cama, de tarde. De noite fico acordado mesmo.
- Já falei que você tem que tentar dormir a noite, não entendo essa sua mania de ficar acordado a noite inteira.
- Deixa eu, mãe, que coisa! Pra mim é mais fácil assim.
- É, mas não esquece que sexta-feira você perdeu hora pro serviço.
- Aquilo foi diferente, o celular não tocou.
- Tocou que eu ouvi.
- Se ouviu, podia ter me chamado então.
- Seu pai que fazia isso.
- Pois é...

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